sábado, 9 de julho de 2016

Até aqui me recordo...

Lembrei da horta dela, da parreira de uvas, do romã, das luzes de natal no romã.
Lembrei dos frangos, dos gatos, muitos gatos, dos cães, do gambá.
Lembrei dos bolos de aniversário, do mexido, da pizza de sardinha.
Lembrei das enciclopédias, do “véio do rio”, das roupas que eu pegava, lembrei que eu cantava pra ele.
Lembrei que sou a soma de um mais um. Ainda que seja mais que dois.
Tudo exala lembrança.
E ecos.

Amém!

domingo, 24 de agosto de 2014

Viajar -substantivos, adjetivos e devaneios


Viajar...
Sair por aí, sem destino, com ele, com muitos deles.
Viajar é correr pra longe das obrigações, fugir da rotina, inspirar outro ar, aventurar-se, arriscar-se, emocionar-se, querer ficar, querer voltar.
Conhecer outra gente, outro cheiro, cenários, os bichos, os sons, sotaques, sabores.
Viajar: sonho, poesia, liberdade, alívio, recompensa, solidão, desapego, laços, coragem, feliz, eufórico, curioso, louco, paciente, simpático, contemplativo, entregue.
E viajar merece poesia sim...

ESQUINAS

Deixar meu canto.
Buscar esquinas. Quietas. Encantadas.
O paraíso.
Olhar amante em cada estrada, cada céu, cada mar e monte.
Cada um.
Todo causo da bela esquina.
Plantar lá semente de mim.
Sepultar lá tudo que, em mim, dói e cansa.
Voltar?
Pro canto, cantando paraíso.
Até o lamento voltar pro canto.
E eu regressar àquela esquina.
E descobrir ainda outra e outra.
E multiplicar o paraíso!


Angel – 27/07/14


E merece fotos: mesmo lugar, olhares coloridos.




sábado, 5 de julho de 2014

Beleza é sentimento


Afinal, em que consiste a beleza? O seu conceito, nas mais variadas fontes, leva-me sempre à velha frase “a beleza está nos olhos de quem vê”. Sim, a beleza é uma experiência subjetiva. É belo o que é agradável à vista do observador ou o cativa. Sem dúvida, o que é belo pra mim pode não o ser para você, leitor.
E quanto tempo dura a beleza das pessoas? Tem limite? Tem relação com a idade? Por que a beleza é uma cobrança social? As rugas são inimigas da beleza?
A relação das mulheres com a beleza é bem estreita. Todas querem ser ou parecer bonitas em algum momento da vida. Arrisco até dizer que não são educadas para lidar com situações que limitem a beleza (uns quilinhos a mais, uma ou outra ruga, flacidez).
Os programas de TV segmentados às mulheres sempre abordam a beleza. O Superbonita, do canal GNT é, possivelmente, o mais voltado para esse tema. O nome sugestivo do programa já atrai muitas mulheres. Eu mesma assisto com frequência a matérias muito interessantes. Recentemente, assisti sobre rugas e flacidez. Sempre são apresentadas as causas, as formas de evitar e os tratamentos que amenizam os efeitos. Porém, refletindo sobre rugas e flacidez, pergunto-me: há formas de fugir disso? Sim. Falecendo. A morte precoce evita os dissabores de ver as rugas e a flacidez no espelho. E então, a morte ou a naturalidade do tempo? Sim, as rugas e flacidez virão, inevitavelmente. Que dor é essa que o tempo traz às mulheres? Será medo?
Até entendo que as mulheres que trabalham com a própria imagem utilizem ativamente os recursos do mercado para amenizar os efeitos do tempo, afinal é o objeto de trabalho. Mas mulheres comuns como eu têm feito cada vez mais tratamentos estéticos para parecer mais jovens, e, aos olhos delas, mais bonitas.
Beleza = juventude?
Os tratamentos e produtos que prometem rejuvenescimento vão muito bem, obrigada! E são caros, em sua maioria. E multiplicar-se-ão enquanto beleza for produto na TV, na internet, nas ruas.
Aquele medo questionado acima pode ser o medo de ser trocada por dois exemplares de 20 anos?
Francamente, não trocaria meus cabelos brancos, minhas rugas e minha flacidez para voltar aos 20 anos! Mil vezes não! Nem a pau!

Minha beleza está nos seus olhos, observador! E se você não a vê, vejo eu!

sábado, 17 de maio de 2014

FILOSOFIA DE AMOR E SEXO


Juntos ou separados, Amor e Sexo estão em nossas vidas permeando nossas relações de família, amigos e as muito e mais íntimas relações de casal. Tenho filosofado muito a respeito e ganhado boas companhias para filosofar também. Hoje é dia de provocação, leitor. Serão mais perguntas que afirmações. E você tem respostas?
Não ouso colocar em discussão amor de pais e filhos. Talvez esse seja o único amor que não se discute, ele existe e pronto, salvo raríssimos casos. E existe forte, pleno, incansável, independente de afinidades, na maioria gritante das relações.
Já o amor fraterno tem lá as suas variáveis. Ele existe sim, porém a afinidade tem papel fundamental na força e na intimidade que brota desse amor.
E o que dizer do amor entre amigos? É o amor sem sexo, sem atração física? Possivelmente sim. E pode até ser um amor comparado a um encontro de almas gêmeas, tamanha a afinidade e sintonia. A velha máxima que diz não existir amizade entre homem e mulher procede? E pode nascer uma atração física numa relação de amizade? E nasce amizade após um encontro físico sem amor?
O que vem primeiro, o Amor ou o Sexo? Um existe sem o outro? Um suporta a ausência do outro? Existe o “grande Amor”? Amor eterno? O que seria exatamente “casar por amor”? Existe prazo de validade para o tesão ou o amor? O que diferencia o amor que sinto pelo meu amigo do amor que sinto pelo meu parceiro, namorado, marido? O sexo? Se sim, nas fases em que o tesão está adormecido no relacionamento, certamente ainda existe amor. Se existe amor, a relação perdura. Perdura? E se, sem tesão no relacionamento, uma traição ocorrer por sexo? É falta de amor? É falta de respeito? É falta de uma afinidade que resgate o tesão adormecido? É motivo para o fim de um relacionamento? Se sim, o que une um casal, o amor ou o sexo?
Está em dúvida? Ótimo! As dúvidas nos fazem pensar e evoluir. E hoje é dia de provocação e filosofia. Respostas!?

domingo, 11 de maio de 2014

JURAS DA NOITE


Brota a noite,
Inteira nossa, ciente de nós.
Noite jurou muito estrelar ao
Brindar nosso encontro,
Rir dos pensamentos pares,
Festejar os ímpares, as risadas.
E jurou não findar ao som dos devaneios,
Ou de alguma cantoria.
Jurou ser cúmplice e noite até que os olhos se leiam,
As palavras se misturem ao desejo.
Até que, de tão juntos na noite, única sombra se veja.
Jurou-se real.
Jurou voltar e voltar e voltar.


Escrita em 10/5/14

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Poesias que ouço – “Sonetos” – Vinicius de Moraes


O Poetinha é minha referência. Conquistou-me desde “A Arca de Noé”. E como eu adorava ouvir esse disco, as poesias de Vinicius e Toquinho!
O legado de Vinicius é gigantesco! Poeta, compositor, autor, crítico de cinema, Vinicius foi muito além da poesia e, além do amigo Toquinho, contou com renomados parceiros durante a vida: Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lira, Francis Hime, Edu Lobo, Maria Creusa, Haroldo e Paulo Tapajós, entre muitas outras feras.
Em 1957 é publicada a primeira edição do Livro de Sonetos, grande clássico de Vinícius. E muitos desses sonetos foram declamados incansavelmente, em áudio e vídeo.
É torturante dizer que gosto mais de um ou outro. Escolhi alguns de meus preferidos em letra e som.

SONETO DO AMOR TOTAL

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


SONETO DE FIDELIDADE

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto


De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama


De repente não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente


Fez-se do amigo próximo, distante

Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente




Vinícius é um vício meu! Será pauta e paixão eternas!

domingo, 13 de abril de 2014

Preconceitos e estereótipos – mulheres em foco.


De carona em fatos recentes (ação de encoxadores, divulgação desastrosa de pesquisa do IPEA), borbulham os preconceitos e estereótipos em relação a nós, mulheres. Sim, eles diminuíram (um tantinho só), mas continuam sendo o sustentáculo da educação de muitas famílias, o exemplo que os pais escolhem e praticam para que seus filhos sigam. Não, isso não é um discurso feminista, é quase uma Ode à liberdade, à expressão “Viva e deixe viver”. É tão trabalhoso assim questionar o que nos ensinam e o nosso próprio discurso? Ou é somente uma forma mais cômoda de viver?
Lidamos com as várias formas de preconceito e estereótipos ligados à realidade feminina:
  • isso não é serviço de mulher – jura que eu não posso trocar pneu?
  • existe mulher pra casar e mulher pra transar – talvez o mais tacanho dos preconceitos.
  • qualquer mulher solteira (leia-se sem namorado), em  sintomas de mau humor, tristeza ou afim, é por falta de homem – esse é de vomitar!
  • a roupa que uma mulher veste faz dela santa ou vagabunda
  • se a mulher é simpática no primeiro encontro, ela está dando trela – certamente quer fazer sexo com o cidadão para o qual ela está sorrindo.
  • não existe amizade entre homem e mulher.
  • mulher tem de ser mãe.

Muitas das estranhas teorias milenares ligadas à mulher passam pela sua sexualidade, pela sua vida íntima. É assim: mulheres, temos aqui X estereótipos. Com certeza você se encaixa perfeitamente em um deles. Caso contrário, você não existe, não é um ser classificado socialmente. Será que os crentes e praticantes dessas teorias (talvez, sim, muitos de nós) lembram-se de que as pessoas, homens ou mulheres, são seres únicos, cada qual com suas preferências, sua personalidade, seus desejos? Que as aparências são aparências e só? Julgar é muito fácil, muito prático.
Questionar: verbo lindo! Questionar é abrir a porta da liberdade de expressão, de pensamento. Por que devemos viver com base em moldes? Por que devemos aceitar que somos um exército de criaturas que pensa e age igualzinho?
Que sempre existam perguntas! Que sempre haja mudança!
Que a minha individualidade feminina não tire o seu sono!